paga-se aqui

sim, é aqui que se paga.
sou eu o cobrador.
cobro caríssimo, não é fácil negociar.
não titubeio quando é necessário aplicar multa por atraso,
multa por devaneios que te atrapalharam,
multa por pequenos egoísmos que te fizeram crer
que eram outras as prioridades.

sou eu quem vai te lembrar o que você fez há seis anos
de novo e de novo, se precisar.
vou dizer, quando alguém fizer a mesma coisa com você:
“mas você lembra quando fez aquilo com o fulano,
em vinte e três de março de mil novecentos e noventa e oito?”
OK, estou exagerando, não vou lembrar a data certa,
mas vou lembrar sim,
ô se vou.

meu pai tinha mania de dizer “eu te falei”
além de “quequéisso!”
(a gente imitava muito quando ele falava quequéisso,
ele falava quequéisso de um jeito muito particular,
fazíamos bullying com papai
e ele parou de falar quequéisso)
nunca mais ouvi ele falar “eu te falei”
porque a gente não mora mais junto
(dois quarteirões nos separam)
e porque ele não me fala mais muita coisa,
então como ele poderia falar que me falou
se não fala mais?

quando a gente se encontra fala do passado,
de maneira muito leve,
e de política,
de maneira muito pesada.

mas quando fui morar sozinho
sem querer risquei com um giz de cor forte
uma linha que seria o limite
e essa linha surpreendentemente foi respeitada,
jamais ultrapassada
(a não ser por Ana Beatriz, que é a certinha mais sem noção que já se viu)
— será mesmo que foi sem querer ou foi querendo,
enfim, o que quero dizer é que não foi algo planejado,
quando vi ninguém mais tinha nada com isso
(sendo isso a minha vida)
a não ser eu
e deve ter surgido no meu inconsciente “oh, puxa vida,
isso é que é ser adulto”.

aí aconteceu.

levei tão a sério que ninguém mais tinha nada com isso,
agora era eu o meu pai,
eu o que dizia “eu te falei”,
e eu digo,
e é aqui que se paga.
escolhas & consequências, sempre foi assim,
sempre me cobrei tanto,
por que não cobraria dos que estão ao meu redor?

minha educação católica me ensinou o perdão
mas se esqueceu de me ensinar
que ao perdoar você deve esquecer a cara feia.
faço caras feíssimas, horrorosas,
mesmo quando acho que não estou fazendo,
me ultrapassa e me transborda a cara feia;
sou um péssimo ator.

portanto vou cobrar sim,
não vou esquecer,
guardando tudo arquivado,
minha memória não é tão boa mas
um dia qualquer me bate e eu lembro.
vou perdoar porém carrancudo,
e qualquer dia te lembro do que já perdoei mas não esqueci.
não precisa ser comigo não, pode ser apenas uma coisa que desaprovei.
uma coisa idiota.
mas eu lembro.

e não, não me orgulho disso.
adoraria esquecer, perdoar fazendo cara de bonita,
mesmo quando não tenho nada a ver com isso.

não consigo, desculpa.
me perdoa e
segue o boleto.

O que fazer em período de seca?

. Pausas.
. Manha. Mas somente por dois dias.
. Procurar colírios.
. Concentrar-se no que dá dinheiro e não muda o mundo.
. Pintar uma unha, uma só, de azul.
. Sendo mulher, pinte todas.
. Polir problemas.
. Procurar no Google fotos de ambientes marítimos.
. Hilda Hilst.
. Não tentar se surpreender. Não dá certo, e a frustração amarra a boca.
. Mas, se vierem, aceitar as surpresas como presentes providenciais – e agradecer.
. Tomar muita água.
. Tomar muito cuidado com os corações alheios. Um raspão pode ser fatal, um rasgão pode ser abissal.
. Angela Rô Rô.
. Caso esteja no Leblon, aproveitar e observar, apenas.
. Balbuciar. Ninguém precisa fazer sentido sempre.
. Evitar cigarros e bebidas alcoólicas. Não parece, mas eles secam ainda mais.

Acima de tudo, ouvir guitarras, pianos, até atabaques.
E observar a chuva pelas janelas.

Estiagem, pior quando é dentro.

voltei.

“Nessa semana irei me casar” ou “Você acha mesmo que esse blog é romântico?”

Tudo podia acontecer exatamente na hora certa
ex. meu sono
e seria tudo extremamente chato
ex. o seu timing.

Acontece que decidi acreditar
(bem antes)
que hora certa é um conceito muito errado,
do mesmo jeito que às vezes decido dar uma chance pra coisas que a princípio acho um pouco enfadonhas
ex. Susan Sontag.
Absolutamente certo?
Qualquer pessoa que possua um lado racional além do emocional
ex. capricorniano com ascendente em Gêmeos e lua nunca descobri
não pode avaliar certezas a menos que tenha provas concretas, cabíveis,
e pelo menos com cara de eternas
ex. Maria Callas canta bem, apesar de não fazer meu estilo.
ex. quem sai na chuva de fato vai se molhar.
É por isso que acredito que, sim, o destino pode não existir,
coincidências podem ser apenas coincidências,
ser dono único e solitário de sua própria vida soa desesperador por um lado e ao mesmo tempo te dá aquela sensação boa de “se me foder vai ser culpa minha mas se dar certo vai ser por minha causa também”.

Nessa semana irei me casar.
É esquisito, estou tranquilo. Outras coisas também são esquisitas
ex. Talita vai se mudar pra França de vez em menos de 24 horas e fuma um cigarro como se fosse ontem, não grita como a Toninha da Augusta e nem criou uma queloide de tanto estalar os dedos.
Se você quer mesmo saber o que me preocupa nesse exato momento é
1) quase nada
2) jogar revistas fora
3) arrumar o armário que tem roupa saindo por todos os lados
4) o que será que existe de romântico em um dragão dourado comendo uma cabeça? – bem, talvez as pessoas continuem sem saber encontrar palavras certas pro que querem dizer e eu continuo exigindo muito de tudo e de todos inclusive de mim mesmo
ex. não lembro agora, mas me diga você

Também me preocupo se ele tomou remédio e se ele está dormindo bem.
Ele tem a sobrancelha grossa, um nariz que eu acho a coisa mais deliciosa do mundo e a cara de praia mais adorável que eu já vi – apesar de nunca ter visto outra mas certeza, se chegar a ver não será nem um pouco adorável como a dele. Possui um talento espantoso pro mal humor, e não gosta de cortar as unhas dentro de casa, gosta muito de Pizza Hut e seus olhos são duas pequenas e doces jabuticabas.

quer dizer,
soa romântico,
mas juro que é
(na minha cabeça)
outra coisa.
talvez também seja romântico,
mas outra coisa.
e talvez por isso eu não seja poeta, sou outra coisa.

2011, um ano surpresa

Minhas metas pra 2011 eram:
juntar dinheiro pra viajar;
receber a herança pra viajar;
fazer yoga;
comer menos.

Sabe qual que eu cumpri?
Nenhuma. E 2011 foi maravilhoso.

Vamos lá:
. 2011 foi o ano dos 30. Eu descobri que ter 30 é tipo ter 20, mas com mais dinheiro. É sério!
. Talvez por agora eu ter 30 lembrei de muita coisa. Fiquei lembrando, lembrando. Lembrei que eu amava Doors. David Bowie. Lembrei de um monte de música que eu amava. Baixei tudo de novo.
. Morei com a Talita esse tempo todo e a gente não se matou. Pelo contrário, a gente se amou horrores.
. Fui pro Rio, foi OK.
. De repente pintou uma coisa esquisita enquanto eu estava no Rio.
. Foi legal.
. Virou bizarro.
. Escafedeu-se e eu prometi que nunca mais faria isso de novo.
. Fiz isso de novo, e acho que foi menos de um mês depois de prometer não fazer.
. Adorei e adoro.
. People are strange.
. Assisti uma penca de shows. Passeei uma penca em SP mesmo. Comprei um iPhone. Joguei Pokemon. Não viajei mas foi como se fosse.
. De repente pensei em casamento e percebi que eu sou um bobo falastrão que sempre fica falando coisas, pensando outras e ainda fazendo outras. Mudo de ideia e todo mundo fica pra mim: “Ué, mas não era você que odiava casamento?” Mas até aí, quem nunca.
. Nunca escrevi tão pouco aqui. Mas isso é um sinal: sinal de que estou preferindo viver lá fora.

Planos pra 2012?
Continuar exatamente do mesmo jeito.
Só que completamente diferente.

Ela vem, dizem

ai que emoção

Acho que vi um gatinho

Esse tipo de cadeaux a gente tá aceitando, viu? Beijos!

Qualquer dia eu volto…

Por enquanto: http://comosercool.wordpress.com/.

Beijos!

Oh, Elvis

Porque eu gostei do CD novo da Marisa Monte

1º é bom deixar claro que eu sou do tipo de gente que ainda compra CD.

Depois é bom deixar claro que eu não sou fã que gosta de tudo que a Marisa Monte lança. Não gostei de Infinito Particular, por exemplo.

Mas O que você quer saber de verdade é lindo.
É hippie.
É simples.
É Roberto e Erasmo hippies (ou seja, Erasmo).
É um reencontro dela com várias coisas, mas não exatamente um reencontro igual.
É mais (Mais?) do mesmo, mas é mais.
É Raul Seixas em Aquela velha canção.
É muito popular e muito sério e muito verdadeiro, eu acho.

É cheio de verdades que eu quero saber.