Paulo Autran: E você, Clarice, acha que a vida é boa?
Clarice Lispector: É bom ser. Mas só isso.
Do livro “Clarice Lispector – Entrevistas”
Paulo Autran: E você, Clarice, acha que a vida é boa?
Clarice Lispector: É bom ser. Mas só isso.
Do livro “Clarice Lispector – Entrevistas”
O que eu sinto não dá pra falar direito. Não é exagero. Porque é só meu. Não sei dizer o que é nas palavras que já existem porque é outra coisa, que estou sentindo pela primeira vez e que ninguém nunca sentiu antes.
Cada coisa que cada um sente é a primeira vez que aparece.
Posso dizer que não é tristeza. Não é raiva. Não é felicidade, nem alívio. Tem um pouco de melancolia, talvez, e uma pitada de tédio. Lá dentro existem grandes espaços vazios, cansaços e um sentimento alerta, que não é um grito, mas uma sobrancelha levemente levantada e um olhar um pouco arregalado.
Berziníguia.
Tô sentindo berziníguia. Não sabia que palavra usar, então inventei uma.
Mas amanhã já vai ser outra coisa, e vou ter que inventar outro nome. Berziníguia nasceu hoje e morre hoje.
Aceita vinho tinto?
Não, não é verdade que a gente amadurece.
O que acontece é que quanto mais velho, mais você liga o foda-se, portanto mais você está apto a falar verdades e ter ações que realmente resultam em consequências.
E assumir consequência também fica mais fácil com o tempo. Você vai pegando gosto. Vai percebendo que não é um bicho de sete cabeças.
Pra mim, sempre foi muito fácil falar o que eu realmente sinto e penso. Na maioria das vezes acabo me fodendo, mas acredito ser melhor assim anyway. Todo mundo sempre me achou muito maduro por dizer coisas e assumir certos riscos teoricamente calculados (bem na teoria). No fundo, todo mundo está errado: não sou maduro. Eu simplesmente sou o que os outros chamam de sem noção e o que eu chamo de coerente, do bem, verdadeiro ou seja lá o que for.
Por isso eu fico meio chocado quando as pessoas parecem ter algo a esconder. É muito estranho.
EXEMPLIFICANDO
Tipo, é surreal para alguém uma conversa assim:
A: Então, na verdade eu fiquei com você naquela noite mas eu tô sussa, foi só uma noite mesmo.
B: Ah, que pena, eu poderia namorar você.
A: Puxa. Sinto muito.
B: OK. Só deixa eu apagar seu número da minha agenda de celular… hum… pronto.
A: OK! Posso te fazer uma pergunta?
B: Hum, acho que sim.
A: Eu posso te cumprimentar… assim… quando te encontrar?
B: Claro! Mas, ó, por favor, não fica com nenhum amigo meu, tá? Eu não vou gostar.
A: Tudo bem, claro!
Pra mim essa conversa seria OK. Não é a coisa mais divertida do mundo, mas pelo menos as coisas não ficam pela metade, não se geram ruídos, fica tudo bem. Óbvio que isso também conta pro “Nossa, tô adorando você” / “Eu também!” / “Poxa, que legal, vamos tomar um sorvete?” / “Sim!”
Mas aí o que acontece no lugar disso? Olhares mal-entendidos, frases difusas, passos confusos. Tsc tsc.
Mundo: vocês têm muito a aprender com os capricornianos. Porque no fundo, é simples, eu juro.
And again:
“Oh, não se assuste muito! às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! a gente não ama bem, ouça (…)” – A legião estrangeira, de Clarice Lispector
Eu não juro que a gente esquece, não. Mas é verdade que a gente esmaga de amor. Morde. Arranha. Arranca pedaço. Os Beatles sofriam com as jujubas das fãs. Drive my teeth across your chest to taste your beating heart, Florence + the Machine, Howl. Happiness is a warm gun. Beware.
Pow.
Publicado em conjecturas, eu eu eu, literatura, música
Com a tag A legião estrangeira, amadurecimento, Beatles, Clarice Lispector, Florence + the Machine, Happiness is a warm gun, Howl
(ou praticamente pronto – só falta a barra!)
Fazer figurino de teatro é difícil. Esse foi um pouco mais complicado, porque tinha um pouco de dinheiro e as meninas optaram por produzir mesmo. Imagina: eu, jornalista, desenhando roupinha? Bom, aos trancos e barrancos e com a ajuda abençoada da Monayna e do Mario na produção (Casa de Quem crew!), o lance rolou bem e eu fiquei bem feliz com o resultado!
É engraçado fazer figurino porque você não pode pensar só na montação, ainda mais nas peças com a Verô na direção, que geralmente tem muito movimento. Funcionabilidade total. E o pior é que eu queria dois macacões – e macacão, meu bem, é a peça mais complicada que tem. Se o cavalo está muito pra baixo, fica feio quando a pessoa levanta a perna; se o cavalo está muito justo, pode rasgar quando a pessoa fica de cócoras. Um drama. ENFIM, eu acho que ficou bem bonito, bem o que eu queria, diferente e ao mesmo tempo afastado da ideia de mulherzinha que uma peça de Clarice Lispector pode sugerir. Não tem rosa, não tem saia, não tem vestido, não tem babado, e ao mesmo tempo tem uma feminilidade e é divertido sem ser lúdico demais.
Mas vocês que me dizem, né? Corre pra comprar porque vai acabar rápido: são poucos lugares, já que a peça só comporta uns 20, 25 espectadores por apresentação!
Abri essa cerveja que está agora nas minhas mãos mas não é para relaxar, não é para me perder, é para esquecer, mesmo.
ESQUISITA É VOCÊ!
ESQUISITO É VOCÊ!
ESQUISITO É VOCÊ!
ESQUISITO!
ESQUISITA!
ES-QUI-SI-TÁ!
Da incompreensão pelas pessoas que fazem mal para quem eu gosto, passei para o ódio. Tive que ficar um tempo num banco da Praça Buenos Aires fumando um cigarro para tentar refletir qual seria a melhor solução – deveria matá-los? Deveriam esses seres que criam intriga, roubam, praticam o maldizer, simplesmente passar impunes pela face da terra?
Tem gente chorando por causa desses canalhas. Chorando. Derramando lágrimas.
“Oh, não se assuste muito! às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! a gente não ama bem, ouça (…)” – A legião estrangeira, de Clarice Lispector
Saí da praça entendendo menos, sem solução nenhuma, mas com alguns pequenos diamantes – dos valiosos mesmo, e não desses de pendurar e ostentar. Estou percebendo cada vez mais que o dinheiro é venenoso – receba-o em pequenas doses, somente o necessário, venenos são necessários, sabia? – e que o meu figurino da peça
ah, sim
ele é
uma homenagem
e eu nem tinha percebido.
Aos que não tem absolutamente nada a ver com isso – ou seja, quase que absolutamente todos os leitores desse humilde blog – sorry, I think I just pucked a little in my mouth.
Esquisitos somos nós, são eles. ESQUISITO É VOCÊ, ESQUISITO É VOCÊ, ESQUISI-TÔ! ESQUISI-TÁ!
“Eu que não lembrara de lhe avisar que sem o medo havia o mundo.” – idem
Publicado em amigos, conjecturas, eu eu eu, figurino, literatura, teatro
Com a tag A legião estrangeira, Clarice Lispector, Praça Buenos Aires
Dois telefonemas nessa semana me fizeram virar de cabeça para baixo. Se me encontrar na rua e me ver completamente emburrado, não se iluda, não é pessoal – eu estou PENSANDO, e quando penso pareço emburrado.
Bom, eu posso contar sobre um dos telefonemas.
Mas como eu não gosto da linearidade na era do pós-dramático (sou very in, honey), vou de fragmento.
Eu e Verônica, uma garrafa de vinho, pães, patês e azeitonas.
– Eu preciso de um grupo técnico.
– A gente precisa… pendurar coisas! A gente precisa… que cada coisa pendurada tenha sua função!
Nada de intenções, a gente quer ações entre amigos.
– Eu quero… friccionar essa garrafa nessa bolsa para ver no que dá!
Para ver se… faz barulho. Simples.
Fricções.
Peça de Clarice Lispector? Eu só sei o que o figurino NÃO deve ser.
Fora saia, fora vestido, fora babadinho, fora estampa de bolinha.
EU QUERO CALÇA. Cruzes. Só vale ser mulherzinha se for intencional e existir ironia por trás.
Publicado em amigos, figurino, teatro
Com a tag Clarice Lispector, Verônica Veloso
Foi a Deborah que me disse.
Eu não estou exatamente disposto a sofrer mais… mas… estamos aí, né, pessoal.
Com a tag Clarice Lispector, Deborah Piha, entrevista, Pablo Neruda